Eu Sou a Marrom

Biografia

Alcione Dias Nazareth nasceu na rua do Coqueiro, no bairro de São Pantaleão em São Luís, MA, no dia 21 de novembro de 1947. O nome de batismo foi idéia do pai. Alcione era a sofrida personagem de um livro chamado “Renúncia”. A quarta de nove irmãos, sendo das filhas a mais velha. Os irmãos: Wilson, João Carlos, Ubiratan (falecido), Jofel, Ivone, Maria Helena e Solange. Além desses, ainda possui mais nove irmãos por parte de pai.

Ele, João Carlos Dias Nazareth, pai que comandava a família com pulso firme, era mestre da banda da Polícia Militar de São Luís do Maranhão e professor de música. Foi ele quem lhe ensinou, ainda cedo, a tocar diversos instrumentos de sopro. Além disso, foi compositor e cantador de bumba-meu-boi.

A família era bastante humilde, mas segundo Alcione, nunca lhes faltou o que comer. A mãe, Felipa Teles Rodrigues, lavava roupa e quando a situação ficava mais delicada vendia peixe frito, no que os filhos também ajudavam. Dona Felipa também trabalhou como vigilante (coordenadora de corredor e de limpeza) em um colégio da capital maranhense.

Os brinquedos, como as bonecas e bruxas de pano, era ela e os irmãos mesmos que faziam. Quebravam coco de babaçu e vendiam a amêndoa para as indústrias que fabricavam óleo e com esse dinheiro que guardavam podiam ir ao cinema.

Estudou em colégio público, fez o primário no colégio Almeida Oliveira, hoje Sotero dos Reis, no bairro de São Pantaleão e depois estudou no Liceu Maranhense,  em uma época que em o supra-sumo da educação estava na educação pública. Neste último, dividiu classe com Roseana Sarney e outros membros da elite de São Luís.

Alcione foi apresentada à música ainda bem pequena, por intermédio de seu pai. Era ela que o ajudava a copiar as partituras. Em seguida aprendeu o clarinete, que começou a estudar aos 8 anos. Pro sax e trompete foi rápido. Ela tocava os instrumentos  na "Queimação de Palhinha" da festa do Divino Espírito Santo, sendo que a  paixão maior pelo trompete surgiu mesmo quando ouviu Louis Armstrong pela primeira vez.

Sua mãe, Felipa Teles Rodrigues, guardava o desejo de que ela aprendesse a tocar acordeon ou piano, como era comum às moças na época. Não queria que Alcione aprendesse a tocar instrumentos de sopro, porque acreditava que eram instrumentos exclusivos de homens, e temia que a filha pudesse ficar tuberculosa. Ledo engano. Segundo a cantora, a prática do trompete foi o que a curou da asma que tinha quando criança.

Aprendia escutando também na rádio nomes como Angela Maria, Roberto Carlos, Elizeth Cardoso, Nelson Gonçalves, Núbia Lafaiette. Aos 9 anos já tocava e cantava em festas de amigos e familiares. Foi quando concorreu em um concurso infantil. Defendeu "Sabiá" e foi gongada. Nada que impedisse a carreira promissora, pois a música já estava em sua vida muito mais do que o velho João Carlos poderia imaginar. Ele queria que a filha mais velha se formasse  professora e casasse com algum amigo seu da polícia. Alcione, uma filha que reconhecia o esforço do pai na criação dos filhos, satisfez até onde deu seu desejo. Se formou na escola normal e lecionou por dois anos.

No início da adolescência participou de um grupo de jovens da igreja de São Pantaleão onde realizavam peças teatrais e shows no salão da igreja, apresentando seus primeiros cantos. Mas sua primeira apresentação foi aos 12 anos, na Orquestra Jazz Guarani, da qual seu pai era integrante. Certa noite, o crooner da orquestra ficou rouco, sendo substituído pela menina. Na ocasião cantou com sucesso a música "Pombinhas Brancas" e o fado "Ai, Mouraria".

Continuou a se dedicar à música, e aos 18 e 19 anos (nos anos de 1965 e 1966) se apresentava na TV do Maranhão. Em 1968, aos 21 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro com a ajuda do padrinho João Damasceno e do então senador Henrique De La Roque. Lá foi morar na casa do irmão mais velho, em Parada de Lucas. No segundo dia estava trabalhando na Cantina do Ministério da Fazenda. Mas o irmão lhe arrumou um emprego de balconista em uma loja de discos na Rua Larga, “Império do Disco”.

Sua primeira aparição em público foi em um concurso na antiga TV Excelsior, onde cantou “Eu e a Brisa”. Eram jurados neste programa: Clara Nunes, Edith Veiga, Herivelto Martins, Dorinha Freitas, José Messias, entre outros. Saiu do programa vencedora. Assinou seu primeiro contrato profissional, apresentando-se no programa "Sendas do Sucesso".

Depois de seis meses nessa emissora, em 69, realizou uma turnê de quatro meses pela América Latina. Voltou e foi cantar na noite, levada pelo cantor Everardo, que ensaiava no Little Club, boate situada no conhecido Beco das Garrafas, reduto histórico do nascimento da bossa nova, em Copacabana. Cantou em boates como Barroco, Bacarat, Little Club, Holiday, Bolero.

Em meados dos anos 70, foi para São Paulo apresentar-se no "Blow-up", onde conheceu o cantor Jair Rodrigues. Em seguida, viajou também à Europa, Portugal, Teerã e Itália, onde ficou por dois anos, principalmente na Itália. Nessa época, sua voz e seu trompete já haviam conquistado produtores internacionais, sem o reconhecimento do público brasileiro.

Em 1972, de volta ao Brasil e apadrinhada por Jair Rodrigues que a levou para a Polygram, gravou o seu primeiro compacto simples, no qual constavam "Figa de Guiné" (Reginaldo Bessa e Nei Lopes) e "O sonho acabou", um presente de Gilberto Gil.

Em1973, gravou outro com as músicas “Tem Dendê” e “Pinta de Sabido. O projeto dos compactos sem fins comerciais pensado por Roberto Menescal cumpriu seu propósito: apresentar Alcione para o grande público.

Nessa época, costumava apresentar-se com o cantor Emílio Santiago, na boate "Preto 22", de Flávio Cavalcanti, em Ipanema, Rio de Janeiro. Foi também quando participou do programa A Grande Chance, de Flávio Cavalcante. Destacou-se ao vencer as duas primeiras eliminatórias do programa.

Em 1975 gravou um compacto duplo com os melhores samba-enredos daquele ano. No mesmo ano, gravou o seu primeiro LP “A Voz do Samba”, que trazia em uma das faixas a canção “Não Deixe o Samba Morrer”, que alavancou a carreira nacional da sambista. Este sucesso, por sinal, Alcione conheceu através de uma cantora com a qual dividia a noite na boate paulista onde trabalhava. Ouviu-a cantar ao final de um show, e perguntou a ela quem tinha gravado. A cantora respondeu que ela iria gravar, mas seu produtor achara a música pouco comercial. Alcione guardou a música por 6 meses e depois incluiu no primeiro Lp. Ficou 22 semanas em primeiro lugar das mais pedidas pelo público.

A partir daí, Alcione não parou mais. O Lp de 1978, Alerta Geral lhe rendeu um programa de MPB com o mesmo nome, na Rede Globo, sob direção de Augusto César Vannucci, onde cantou com as grandes personalidades da MPB, como: Baden Powell, Vinícius de Moraes, Nelson Cavaquinho, Cartola, Clara Nunes, Ângela Maria, Maria Bethânia, Tom Jobim e tantos outros. Dentre os quadros do programas tinham a ‘’Gafieira da Marrom’’ e o ‘’Beco da Marrom’’. O convite para o Programa Alerta Geral surgiu quando Vanucci viu o show ''Alerta Geral'' no Teatro da Galeria, no Rio e em seguida levou Boni (diretor-geral da emissora na época) para ver também.

Com a média de um LP gravado por ano, Alcione alcançou o patamar de Estrela da MPB Brasileira. Recebeu o apelido “Marrom” da dupla de cantores caipiras Ludgero e Otrope, em uma excursão que fizeram em uma Kombi no nordeste. Durante o percurso, um deles dizia: “Alcione, canta uma música da Núbia para eu me lembrar da minha marrom que ficou lá em casa.” No final da excursão ele já dizia: “Marrom, canta uma música pra eu me lembrar daquela outra marrom”. 

Se apaixonou primeiramente pelas cores verde-e-rosa da Mangueira, que viu em uma foto das baianas na Revista O Cruzeiro. Na primeira vez que chegou na  Estação Primeira, em 1980, a levaram até a casa de Cartola onde foi apresentada à D. Zica e dali para diante ficou de casa. Nunca mais abandonou a escola.

No final dos anos 80, ajudou a fundar o Clube do Samba, juntamente com João Nogueira, Dona Ivone Lara, Elizeth Cardoso, Martinho da Vila, entre outros.

O disco Fruto e Raiz, de 1986, foi o maior sucesso comercial de sua carreira, tendo vendido 700 mil cópias e ficando inclusive, na frente do disco anual de Roberto Carlos.

Em 12/08/87 fundou, ao lado de Tia Jô, Tia Neuma, Tia Zica, Tio Jair, Dinorá, Jorge Simão e Chiquinho, o Grêmio Recreativo e Cultural do Amanhã (A Mangueira do Amanhã). Inspirada na Império do Futuro, idealizou o projeto da escola de samba do futuro. Trabalhou 16 anos nesse projeto. Hoje existe inclusive faculdade dentro da escola. Alcione é presidente de honra, continuando voluntária na escola. Fundou também o Centro de Arte da Mangueira, Mangueiarte, e o Centro de Apoio.

Em 1997, completou 50 anos com três dias de grande festa em São Luis batizada de Marrom Folia, e com uma temporada de shows e exposição no teatro Arthur Azevedo.

Em 2000, fundou em São Luís o Bloco Carnavalesco ‘‘Esbandalhada’’ que reuniu a família, amigos e fãs da cantora nas ruas de São Luís. Em 2003, trocou o nome do bloco para ‘’Fuleragem’’ consagrando mais uma vez seu nome diante do publico maranhense.

Ganhou 25 discos de ouro, 2 de platina, sendo 1 de platina duplo.

Em sua galeria de troféus que reúne cerca de 350 peças, possui títulos e honrarias que poucos artistas tem, como:

*Ordem do Rio Branco (a mais alta comenda do Brasil)

*Medalha Pedro Ernesto (concedida pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro)

*Medalha Mérito Timbira (a maior comenda concedida pelo Estado do Maranhão)

*Madrinha do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro

*Embaixadora do Turismo do Estado do Rio de Janeiro e do Maranhão

*Pensador de Marfim (concedido pelo governo de Angola)

*Premio Griô em 1999 (concedido pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro a Personalidade Negra de Destaque)

*Personalidade Negra das Artes (Conselho Internacional de Mulheres)

*A Voz da América Latina (ONU)

*Grammy Latino 2003

*Medalha de Ouro da Academia de Artes, Ciências e Letras Francesa.

*Lifetime Anchievement Award (Flórida)

*Vários prêmios nacionais importantes: Premio Sharp, Premio Caras, Globo de Ouro, Rágio Globo, Antena de Ouro, Premio Tim, Troféu Samba de Primeira, Troféu Raça Negra.

*Foi convidada para cantar para o Papa João Paulo II em São Luís, saudando-o junto com 500 mil pessoas com a música ‘’João de Deus’’

*Cantou no baile de posse do presidente Figueiredo juntamente com Benito de Paula e Luís Carlos Vinhas.

*Representou o Brasil em especial para a Televisa – México, juntamente com Edu Lobo, Francis Hime e a Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense.

*Recebeu homenagens como: Lona Cultural Alcione Nazareth no Rio de Janeiro, Elevado Alcione Nazareth e Teatro Alcione Nazareth, ambos em São Luís.

*Foi enredo de escola de samba em 1988 pela Flor Do Samba (São Luis), Independentes do Cordovil em 1989 (Rio de Janeiro), Unidos da Ponte em 1994 (Rio de Janeiro) e Turma do Quinto em 2007 (São Luis). Será homenageada este ano pela G.R.A.C.E.S. Juventude Imperial de Juíz de Fora/MG.

 Só para dar uma pincelada na trajetória de Alcione e demonstrar sua importância na divulgação da música brasileira no exterior, abaixo, alguns lugares marcantes em que ela cantou:

*13 Teatros no Japão, entre eles o Pit Inn e o Nakanu Plaza Hotel

*Festival de Montreux, na Suíça

*Em Portugal, nos teatros Capitólio, em Liboa, e Sal da Beira, no Porto, além da Universidade de Coimbra e no Cassino de Estoril.

*Festival Domenica Romana, em Roma – Itália.

*Na casa de espetáculos Ballroom e no Town Hall Theatre em Nova Iorque.

*No ginásio Dínamo em Moscou e em mais 12 teatros da antiga União Soviética, somando um total de 26 apresentações por quatro Repúblicas – hoje países- Rússia, Estônia, Lituânia e Ucrânia.

*Na VII Bienal do  Brasil em Lyon  - França.

*Além de apresentações em vários continentes, num total de 26 países, entre Europa, África, Leste Europeu, Oriente e claro, todas as Américas.

 

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